O layoff é uma estratégia usada por empresas para reduzir sua força de trabalho devido a problemas financeiros ou mudanças estruturais. Nos últimos anos, o setor de tecnologia cresceu rapidamente e atraiu grandes investimentos, o que resultou em uma inflação nesse mercado. Entre 2011 e 2021, a participação da tecnologia da informação no mercado global de ações quase dobrou, de 11,7% para 21,3%. Em 2020, houve 323 ofertas públicas iniciais de empresas de tecnologia em todo o mundo, com a maioria nos Estados Unidos. No entanto, a situação econômica atual para as grandes empresas de tecnologia é caracterizada por altas taxas de juros e investidores mais cautelosos, o que resultou em menos investimentos, aumento da concorrência e altos custos de manutenção de equipes. Como resultado, as demissões têm sido mais comuns, especialmente em startups que dependem de investimentos de capital e têm dificuldade em gerar lucros. A pandemia e a falta de previsibilidade dos ciclos econômicos contribuíram para esse cenário, com os Estados Unidos aumentando as taxas de juros para controlar a inflação, tornando os títulos americanos mais atraentes para investidores em comparação ao investimento em startups. Como resultado, o número de demissões aumentou, especialmente na área de tecnologia.
Além dos EUA, a situação na Europa não é das melhores, e quando consideramos que temos EUA, Europa e China como grandes potências econômicas mundiais, fica fácil perceber a retração mundial que estamos enfrentando.
Segundo o site Layoffs, até junho de 2023 foram 82 ondas de demissões no Brasil em empresas de tecnologia, impactando mais de 11 mil profissionais dispensados. Outro dado interessante é que as demissões ocorreram 31,5% em startups do segmento financeiro.
Pessoas mais afetadas:
A diversidade e inclusão nas empresas são fundamentais para garantir representatividade, pluralidade e respeito. Elas trazem benefícios como destaque no mercado, atração dos melhores profissionais, equipes mais criativas e uma verdadeira inclusão. A diversidade permite que diferentes visões sejam consideradas, abrindo oportunidades e ampliando os horizontes da equipe.
A falta de diversidade no local de trabalho tem implicações maiores para as empresas, pois equipes diversas têm maior probabilidade de gerar inovação, resiliência e lucratividade.
Dentro do cenário das demissões, o que mais chama a atenção é a predominância de mulheres e pessoas negras demitidas. Segundo o site Layoffs Brasil, 69% dos impactados pelas demissões são mulheres. Estatisticamente, as mulheres já são uma minoria nesse mercado, o que intensifica a falta de representatividade feminina na tecnologia.
O Twitter, por exemplo, tomou a decisão de dispensar cerca de 4 mil colaboradores. Ex-funcionárias levantaram acusações de que os cortes foram desproporcionalmente direcionados às mulheres. De acordo com uma matéria da Reuters, a empresa havia demitido 57% de suas funcionárias, enquanto o número correspondente para os homens era de 47%.
Segundo uma pesquisa da plataforma de inteligência de talentos Eightfold AI, as mulheres têm 65% mais chances de perder seus empregos no setor de tecnologia em comparação com os homens.
Apesar dos esforços das empresas em aumentar a diversidade e inclusão no local de trabalho, os dados mostram que os profissionais que estão dentro do recorte de diversidade têm sido os mais afetados pelos cortes de empregos.
Durante o ano de 2022 no âmbito global, os profissionais negros e de origem latina representaram uma porcentagem maior das demissões em comparação com sua representatividade no setor. Isso indica que eles estão sendo dispensados em números desproporcionais em relação aos colegas brancos.
De acordo com um estudo conduzido em 2022 pela Revelio Labs, uma empresa dos Estados Unidos especializada em inteligência no ambiente de trabalho, os profissionais negros e de origem latina representam 7,42% e 11,49% das demissões em massa no campo da tecnologia, respectivamente. É importante ressaltar que esses grupos equivalem apenas 6,05% e 9,96% dos profissionais que trabalham nesse setor.
Os profissionais não brancos enfrentam desvantagens adicionais durante os layoffs, já que é mais difícil para eles encontrar emprego novamente em um mercado de trabalho reduzido. Isso gera ansiedade e preocupação em relação ao reingresso no mercado de trabalho.
Outra preocupação é a extinção das iniciativas de diversidade, igualdade e inclusão durante os layoffs. De acordo com um estudo realizado pela Revelio Labs, as empresas estão cortando cargos de diversidade, igualdade e inclusão de forma mais rápida em comparação a outros cargos. Esse padrão teve início em 2021 e tem se intensificado durante os processos de demissão em massa ocorridos em 2022.
Isso afeta desproporcionalmente profissionais de origens sub-representadas, que muitas vezes ocupam essas posições. Além disso, a redução desses programas pode prejudicar o sentimento de pertencimento dos funcionários remanescentes e afetar negativamente a motivação e a cultura organizacional.
Diante desse cenário, iniciativas têm surgido para apoiar e recolocar as mulheres demitidas no mercado de trabalho em tecnologia. Por exemplo, a Layoffs Brasil e o Se Candidate Mulher oferecem suporte e acesso gratuito a plataformas de capacitação e recolocação profissional para as mulheres impactadas pelas demissões. Outras organizações, como a Mulheres de Produto, também buscam conectar profissionais afetadas pelas demissões a potenciais empregadores.
A demanda por profissionais de tecnologia ainda é alta, e é importante incentivar e capacitar profissionais dentro do recorte de diversidade para que possam aproveitar essas oportunidades e promover a diversidade e inclusão para criar um ambiente mais equitativo.